sábado, 30 de agosto de 2008

Formigas

Outro dia, devia ser umas 20h30, eu estava sentada no chão de nossa biblioteca/escritório, brincando com minha cadela, quando me deparei com uma formiga.
Era um formigão, aqueles que vira e mexe aparecem na casa da gente. Não era daquelas que parecem um besouro, mas era grande.
Ela estava andando de maneira estranha, meio desequilibrada, aí vi que ela estava com uma pata parada, "mancando", se é que se pode dizer isso de uma formiga (por que não poderia?). Depois vi que era pior: ela estava morrendo.
Então eu fiquei olhando.
Parecia sofrer muito, ficava se dobrando, quase ficava enrolada, até parecia que o problema estava em seu traseiro (vai ver estava). Às vezes, ameaçava andar.
Pensei em acabar com seu sofrimento de uma vez: chinelo nela. Só que eu não queria participar da matança desta vez. Não queria ser responsável por uma morte - mesmo que de uma formiga. Já matara formigas pequenas e grandes, mas as últimas sempre me davam um certo pesar depois, talvez por que, mesmo sendo um inseto, quanto maior ele é, mais vivo ele nos parece.
Eu fiquei, então, olhando a coitada sofrer. Eu não queria isso, mas também não queria matá-la: queria que ela morresse logo, para aquilo acabar.
Comecei a assoprá-la, para não machucar, em direção à mesa de minha mãe. Estava dando certo até o momento em que ela pareceu se prender no chão e não se mexeu mais, por mais que eu assoprasse.
Até que aquilo me encheu. Peguei o chinelo e com dois empurrões ela já estava debaixo do gaveteiro da mesa de minha mãe.
Escondi, mas não matei.
Sem ressentimento algum - afinal, eu não havia tirado sua vida -, fui me sentar na sala.
Depois, me lembrei das formigas que vemos morrer todos os dias na cidade, aos milhares, mas que preferimos jogar para debaixo do gaveteiro mais próximo para não assistir à sua morte.

Maria Júlia

18.08.08

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